É irônico que, em um momento da minha vida em que preparo o
presente e penso no futuro, me surja a infinita vontade de escrever sobre o
passado.
O fato é que estávamos jogados na sala, Caio e eu, depois do
almoço hoje quando ele me falou da falta de criatividade de um portal de
notícias que fez a matéria idêntica no ano passado. Até ai tudo bem, mas eu
estava ligada no meu computador lendo o post publicado em um blog há exatamente
um ano, falando com uma amiga no WhatsAap sobre oque fazíamos nessa mesma data
ano passado e tentando lembrar o que tinha dado a ela de presente de
aniversário no mesmo dia. Coincidências demais para deixar livre o meu
pensamento.
Joguei no Google e não encontrei a reportagem que escrevi no
dia 20, mas que tinha sido publicado no jornal dia 21. Eu ainda era repórter de
política, estava há 7 dias do segundo turno das eleições e era a
repórter-carrapato, aquela que acompanhava todos os passos, do fortíssimo
candidato o então ex-senador Artur Neto, que acabou sendo eleito uma semana
depois.
Dormia pouco, comia muita besteira, mas era extremamente feliz com
tudo aquilo.
Dia 21 de outubro de 2012 foi um domingo e como a maioria
desse dia devo ter ido à casa da minha avó. Almoço com a família, primos, dias
agitados e tranquilos ao mesmo tempo. Muita gente na casa. Muita comida. Muita
bebida. Tipo de família italiana que, até onde sei, não somos descendentes.
Provavelmente eu pesasse uns quilos a menos, o cabelo fosse
um pouco mais comprido e o tempo para escrever em blogs fosse mais curto.
Morava com a minha mãe, ainda enviava SMS, não via e-mail pelo celular, não
tinha conta no Instagram e não sabia fazer arroz. Há um ano eu riria se alguém
me dissesse que multidões foram para as ruas, que o Brasil finalmente “descobriu”
que o EUA usa espionagem e que os meios de comunicação tradicionais se deram
conta da força que têm as redes sociais.
Há um ano eu estava muito feliz porque aprendia muito e
muito rápido: ética, escrita, jornalismo político, meio político, politicagem,
driblar o cansaço, aproveitar a família e manter as amizades e o bom humor mesmo
com poucas horas de sono.
Hoje estou no meu novo apartamento, no coração de São Paulo.
Sai de casa só de manhã, fui comprar água porque não tinha mais e estava
morrendo de sede. Estava bem quente lá fora, “calor Manaus”, como classificamos
aqui em casa. Passei o dia quase todo com uma calça de quadrinhos que comprei,
mas tenho sérias dúvidas se vou sair com ela na rua. Fiz almoço: bife de filé
mignon, arroz branco e purê de batatas. Li livro, assisti séries. Troquei o
sofá pela cama e a cama pelo sofá. Coloquei roupas para lavar. E a pouco vi
pela minha janela um grupo de jornalistas na manifestação em frente de casa.
Hoje eu não escrevi nenhuma reportagem. Não estou com sono.
Acabo de passar uns bons minutos disposta a ouvir a lamentação de um amigo pelo
facebook. Fizemos planos juntos. Li sobre política, escrevi no blog, falei
calmamente com a minha mãe no telefone e fiz meus planejamentos para amanhã.
E a nova dúvida que não quer calar é:
O que será que acontecerá comigo em 21 de outubro de 2014?
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