Em 1994 ganhei o maior presente que uma menininha de 4 anos poderia
querer: uma boneca, do corpo molenga nos cantos certos, com os pés e mãos imitando
os de uma criança de verdade, com os olhos que fechavam quando deitava. A minha
boneca também fazia barulho de bebê tomando mamadeira, quando eu colocava a
mamadeira que veio com ela próximo a boca, dava gargalhadas quando fazia
cosquinhas, chorava quando a esquecia e arrotava quando eu batia nas costas.
Era mais do que uma boneca na época, era digna do posto de melhor amiga.
Ganhei muitas bonecas. Era uma criança com coleção (até
exagerada) delas. Todas com nomes aleatórios. Menos a especial, que recebia o
nome de alguém igualmente especial, o da minha melhor amiga do pré-escolar, a
Riana.
As minhas memórias daquela época são altamente frágeis, mas
na maioria delas a Riana está lá. Somos nós duas, brincando de boneca, fazendo
comidinhas usando folhas e tomando suco de dois sabores que o pai dela inventou.
Mudamos de colégio, mas permanecemos amigas. Até que a Riana
e sua família foram morar em João Pessoa.
Por anos ficamos sem nos falar, até que por algum milagre
que eu não me recordo, voltamos a nos falar por cartas. Sim, século XXI,
e-mails, celulares, mas escolhemos cartas! E por assim foi até o tempo nos
engolir de novo.
Há alguns anos reencontrei a Riana pelas redes sociais. Os
nossos irmãos mais velhos não são mais tão velhos agora (e Raoni, se você
estiver lendo isso, eu até te acho bem legal para ser o “irmão mais velho da
minha melhor amiga”).
A família da minha amiga mora em Manaus, mas por força do
destino ela ainda mora em João Pessoa. De vez em quando temos a sorte de termos
um fim de semana como este último, onde fomos a um boteco botar as novidades em
dias. O papo, que não é mais atrasado, pois nos falamos quase que diariamente, demonstra
que amizades puras e sinceras nascem para permanecer. Mesmo que você mude de
ideia, de tamanho, de cidade ou de Estado.
Vejo muitas coisas minhas na Riana. Como se ainda convivêssemos
diariamente. A forma natural em que conversamos com (e sobre) os nossos
respectivos namorados sobre assuntos banais, como literatura ou loucos, é uma
prova mais do que simples de que nascemos mesmo para sermos amigas.
Sobre as minhas bonecas, eu dei todas elas, uma por uma.
Exceto a única que nunca foi a minha boneca, mas que sempre foi a minha melhor
amiga. A Riana que nos últimos 20 anos já perdeu os sapatos, a fivela e
amarelou o macacãozinho de bebê que era o mais branco da loja , mas que
permanece lá ao meu lado pra sempre.
(Riana e eu no nosso último encontro antes da bebedeira, dos loucos e das sambistas profissionais)
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