domingo, 12 de agosto de 2012

Dia dos pais taxistas



- A senhora tá indo pra casa do seu pai?
- Não, não, ele morreu há pouco tempo... Tô indo pra casa da minha irmã.
- Hum.. Vou deixar vocês lá e vou seguir pra casa. Deixei  R$100 pra velha comprar meu peixe. Um monte de gente vai pra lá, acho que vai ser uma festa do arromba!
- O sr tem muitos filhos?
- Sete filhos, fora os netos!
- Eita, muita gente! Sem contar os maridos e as esposas..
- É, tinha pra mim que a minha menina ainda era uma criança, mas com 14 anos pediu pra casar. Disse que ou eu liberava ou ela fugia. Tive que liberar né?
- Nossa, uma criança mesmo!
- É.. Ela é da igreja, ele também. Ele tinha 35 anos quando pediu pra casar com ela. Os dois tão junto até hoje, tem uma filha preguiçosa...
- Normal, jovem hoje parece que nasce com o sangue qualhado, só quer dormir! (olhando pra mim)
- É. As vezes fico com pena da minha filha, tão nova, perdeu toda a infância pra cuidar de uma família. Hoje ela é gerente de uma loja no centro, mas não sei se é muito feliz não. Só trabalha e vai lá pra casa nos domingos.
- Ela é nova. Logo a filha sai de casa e ela começa a aproveitar.
- É... Tento conversar bastante com ela. Meu pai morreu cedo sabe? Tinha nem 60 anos. Ele adorava feijão e cavalo. Um dia comeu uma pratada das grande de feijão preto, sem arroz, e foi montar no cavalo e morreu.
- Nossa..
- É, saiu sangue por todos os pés de cabelo do braço dele e do corpo. Acho que estourou as veia dele tudo.
- Sinto muito.
- É, espero que a velha tenha comprado o meu peixe favorito. E espero que eles levem algo pra comer também porque só o meu peixe não vai dá não.
- Moço, é ali. No fim da rua.
- Obrigado, e feliz dia dos pais pra vocês.
- Pro senhor também.


E pro meu pai, que não é taxista, também.

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