Foram quase 20 anos de convivência diária. O vô era o responsável por cumprir tarefas essenciais na casa: comprar água, pagar a conta da água, fazer as vontades da neta quando ela choramingava.
O vô comprava o pão quente e a coca-cola gelada pra quando chegasse da pré-escola tivesse o que comer assistindo Castelo Rá-tim-bum e Carrossel. O vô adorava Carrossel.
- Mariaaaaaanaaaaaa começou!, era o que era dito.
A Mariana, que há bem pouco ainda se chamava de "Maiana" ia correndo com o urso do Baby, da Família dos Dinossauros, debaixo do braço. Era inexplicável a sensação de assistir Carrossel com o vô.
Mariana virou Mari. Vieram as Caprichos. Os sorvetes de sabor Chiclete viraram Chicabons. Crédito pra celular, a nova sandália Melissa. O vô resmungava, mas patrocinava.
Começaram as tarefas:
- Vá buscar o jornal de domingo logo agora à noite!
- Vá comprar leite em caixa que tá em promoção.
- Compre banana que a minha já acabou.
...
A mais chata delas era pôr colírio. Eu não entendia porquê o vô tinha que pôr colírio toda hora! E porque ele sempre fechava o olho na hora que, finalmente, a gota caia.
O vô se foi quando eu realizava um sonho.
Pós-primeiro dos três dias de Rock in Rio que tínhamos comprado, o vô, o Rei da Saúde da casa, teve um AVC e foi pro hospital onde poucos dias depois morreu.
O vô não viu que Carrossel teria uma nova versão com a Maysa, aquela garota assustada "a beça" pelo "camarada" do SBT.
O vô não viu que agora quem precisa pôr colírio toda a hora no olho sou eu e eu não consigo manter os olhos arregalados por mais de 2 segundos.
E, quase um ano depois, é essa a minha forma de dizer: tchau, vô.
Nenhum comentário:
Postar um comentário