sábado, 26 de maio de 2012

O cemitério


Estamos ficando velhos, e isso é indiscutível. A parte boa disso é que começamos a prestar a atenção em antigos costumes que antes nos passavam batido, mas que no fim faziam todo o sentido.



Quando criança, no dia das mães, sempre me acordavam cedo para ir à missa e depois ao cemitério.
Minha avó conhecia as coordenadas exatas de todas as sepulturas da famílias, os pontos de referência. 
Era um aprendizado constante para minha mãe e tia que assistiam aquilo com tal dedicação como se fosse necessário aprender para a sua sobrevivência.
A troca de flores, a reza, a limpeza da sepultura ao lado de quem não conhecíamos, mas que estava abandonada. Tudo isso era anotado mentalmente, sem que fosse necessário dizer o passo-a-passo.
Minha avó nos deixou.
Este ano fomos ao cemitério, como se fizesse parte de nós essas ações neste dia.
Mãe e tia na frente, eu e prima atrás. A tradição silenciosa se repetia. As coordenadas aprendidas eram indicadas, o modo de arrumar as flores, engolir o choro, chorar. De ajudar as sepulturas ao lado. Tudo foi repetido.
A sensação que deveria ser de tristeza nada mais era que o fim de um pouco da saudade. De dever cumprido. De paz.

A foto foi tirada pela prima artista. Os modos de decorar as coordenadas, mudaram :).

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