quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

"O homem do 215"

Tenho duas péssimas manias: andar de ônibus e tentar imaginar a vida das pessoas. Ok, o primeiro não é bem uma mania e sim uma necessidade, mas confesso que às vezes uso o transporte coletivo para alimentar a segunda mania.
Eu invento nome, profissão, hobby, cor favorita, filhos, pensamentos e etc. É algo que carrego desde criança, como tirar noves fora de placas de carro.
Para ir pro jornal eu pego ônibus e na parada existe uma figura totalmente diferenciada, um ser humano que eu ainda não consegui colocar nome (Roberval? Roberto? José?) chamado apenas por "O homem do 215".

Ele chega todos os dias pontualmente cinco pra uma na parada. O cabelo parece que foi penteado pelo menos uma 40 vezes, mas mesmo assim não fica legal. A blusa é sempre listrada, colocada pra dentro de uma calça que deveria ser social, com um cinto cor de nada, um tênis preto, e uma chapa dourada na boca. O óculos parece que são de plástico, fino e frágil, no pulso um relógio daqueles que serve de controle ou de calculadora, não lembro.. Era pequena demais quando isso era moda. 
Ele deve ter uns 45 anos, sem filhos, mora em uma casa pequena, trabalha em alguma parte administrativa do Hospital Tropical, deve dançar bolero no bar perto da sua casa, provavelmente no Petrópolis.

O "homem do 215" é tão famoso que quando as pessoas o vem na parada se sentem aliviadas: 1º o ônibus não passou; 2º posso puxar um livro, uma conversa, qualquer coisa porque ele vai está lá atento ao 215 por todos nós.
Algumas pessoas o chamam de "seu menino".
- Poxa, já passou o ônibus.. bem que o "seu menino" avisou que ele deveria passar mais cedo hoje.

O "seu menino" é um profundo conhecedor da rota do 215 ou acha que é. Sabe quais os horários, os ônibus que vem na frente e é claro, a rota. Quando o motorista atrasa ele entra com cara feia, olha pro motorista e esquece, dá um sorriso bobo e passa na catraca. Acho que a raiva por ele fazer isso não é somente minha.
Ele entra como se o ônibus fosse dele, como se tivesse saudades de uma pessoa que não vê há séculos e precisa abraçar logo. Usa suas técnicas de milênios para conseguir uma cadeira e quando não consegue avalia rapidamente o rosto de cada um sentado pra tentar adivinhar quem vai sair primeiro. Ele sempre consegue.
Passou de uma vez que eu quase paro na parada errada, tentando imaginar o que o "o homem do 215" tá pensando, ou o que ele quer da vida, os sonhos, a paixão eterna... Mas não consigo.
Talvez eu sente ao lado dele hoje e pergunte ou não.

Um comentário:

jessicamesquita disse...

agora eu fiquei curiosa pra saber quem é o "homeme do 215" :O