terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Homem de Lata

Há anos aderimos a reciclagem aqui em casa. Separamos papéis, plásticos, vidros, ôrganicos e colocamos na porta de casa as segundas-feiras quando o carro da prefeitura leva para os coletores registrados. Deixamos de pegar sacolas plásticas à-toa também. Somente quando for extritamente necessário. Aderimos as sacolas de pano para compras, separamos as pilhas e levamos aos papa-pilhas da cidade. Virou hábito.
No meu bairro há uma Associação de Catadores de Lixo Reciclável. Eles passam o dia inteiro dentro de uma casinha feita de metal esperando os grã-finos e afins levarem seus lixos. Confesso nunca ter visto nenhum pôr lixo lá, mas se existe até hoje é porque funciona.
O que é curioso é que além dos "oficiais" há os "extras", pessoas que perambulam pelo bairro atrás de latinhas, como é o caso do sr. Homem da Lata.
Ele é um velinho, de uns aproximadamente 76 anos, com boné na cabeça, blusa estilo machão, chinelo e veias pulsantes. Sempre o vejo com uma sacola lotada de latinhas, carregando com muito pesar nas costas. Dá um dó. Toda vez que eu o vejo tenho vontade de perguntar Quer ajuda seu Homem da Lata?, mas sinto que se eu tratá-lo assim aquele saco cheio de metal vai parar na minha cabeça e eu, consequentemente, no chão.
De um modo que eu não sei explicar, meu avô conheceu o velinho. Não sei se meu avô sentiu-se mal por passar o dia lendo jornais e revista, ouvindo rádio e vendo tv.. deitadinho em sua caminha confortável, mas eis que ofereceu as nossas latinhas para aquele sr. E desde lá, com certa frequência vimos o velho da Lata também aqui em casa.
O estranho é que quando tô na rua e cruzo com ele, ele faz A egipscia! é tipo:(sorriso) Oi seu.. PÁ cara virada e vruuum vruuuum ventão na minha cara! Obrigada por me ignorar sr Homem da Lata.
Já quando eu tô na minha, olhando pra baixo, pensando no que vai passar no Faustão o velinho surge na minha frente e diz: Oi minha fiiilha! Cadê seu avô? Tá tudo bem com ele? Diz que eu mandei um abração pra todo mundo!
Sinceramente eu não sei qual é o problema do seu Homem da Lata comigo. Talvez seja o sol na cuca do coitado, ou as latinhas pesadas demais e minha falta de coragem de oferecer ajuda, talvez ele seja bipolar e trabalhe como executivo de uma multinacional ou melhoooor, talvez ele seja rico e esteja se fingindo de pobre pra conquistar outra catadora de lixo que nem aqueles personagens da novela das 7.
Tudo é possivel.
A única coisa que não deveria ser possivel é ele tocar a campanhia desesperadamente (dingdong dingdong dingdong... dingdong dingdongdingdongdingdongdingdongdingdong!!!!) as SETE da manhã em pleno fériado de Carnaval!
Talvez seja nesse momento em que eu abro a porta com a cara de quem vai levá-lo ao sacrificio, que aumenta a raiva dele por mim..
Mas pô seu Homem da Lata, visite-nos no horário comercial né? vamos combinar! Assim o sr pode sentar, tomar um cafezinho e me contar todo seu mistério.. Se o sr quiser, claro.

(vovô arrumando as latas)

Um comentário:

Juliana S. disse...

Pô, sete da matina, nem pensar!
Medo do Sr. Homem das Latas! O.o

Tá linkada também, Mary!

=*