Três letras garrafais amarelas chamaram a minha distraída
atenção na noite dessa segunda-feira. Confesso a vocês que eu não sou a pessoa
mais atenta do mundo, muito menos às segundas-feiras, mas
dessa vez não deu pra deixar de notar.
As letras tinham quase o meu tamanho (ok, sei que não é grandes
coisas), mas parecia não chamar muita atenção das pessoas que esperavam no
cruzamento entre a avenida Paulista com a Consolação. Entendo isso como mais um
sinal blasé dos paulistanos (que não são poucos) ou mera conformidade com o
presente.
As letras formavam a palavra PAZ!, assim, com uma exclamação
pequena, gordinha e que carregava o símbolo do governo Dilma e dizia alguma
frase de efeito. Juro que cheguei em casa e procurei o que poderia significar
aquilo, mas não achei.
As três letrinhas até poderiam passar despercebidas ou
ignoradas pelas pessoas, afinal, todo dia tem algo novo e exótico na Paulista
mesmo... A questão é que a menos de 5 metros dali fica a “praça do Ciclista”,
conhecida como ponto de encontro de centenas de milhares de pessoas em junho deste
ano, responsáveis por ocupar a avenida contra a corrupção várias vezes e,
consequentemente, cenário de atos de violência protagonizadas por policiais
militares.
Talvez em outras cidades do país as manifestações viraram
apenas uma lembrança, mas São Paulo não. Quase toda semana existe uma saindo
justamente da praça do Ciclista com faixas e frases de efeitos.
Não se escuta mais a música do Rappa, nem o “Vem pra rua!” ou “O gigante acordou”. Essas pessoas tem a incrível capacidade de criar músicas e frases para cada caminhada, embalada agora por dezenas de pessoas, defendendo ideais mais “fragmentados”, digamos assim.
Não se escuta mais a música do Rappa, nem o “Vem pra rua!” ou “O gigante acordou”. Essas pessoas tem a incrível capacidade de criar músicas e frases para cada caminhada, embalada agora por dezenas de pessoas, defendendo ideais mais “fragmentados”, digamos assim.
As manifestações não acabaram, nem a violência, que mudou de
endereço. O “caminhar” deixou de ser pela avenida Paulista e passou a ser pela
Consolação, rumo ao Centro, rumo a Sé. É lá que, em certos dias e horários, não
há paz.
Sexta-feira era um dia marcado para uma dessas manifestações
amplamente divulgadas pelos black blocks. Tínhamos esquecido disso quando Caio
e eu compramos ingressos para uma peça
apresentada no teatro do Centro Cultural do Banco do Brasil, no Centro,
perto da Sé.
Descemos na estação e parecíamos que estávamos nos
preparando para guerra. Havia centenas de policiais ao lado dos já tradicionais
mendigos da praça quando fomos rumo ao Centro Cultural. A situação era mais
gritante quando chegamos em frente ao teatro, onde tinha uns 20 policiais para “fazer
a segurança patrimonial do banco”.
Quando saímos da peça não tinha mais nada. Os guardas que
encontrei no banheiro do Centro Cultural enquanto lavava as mãos já não
encostavam suas armas nas pessoas. Não tinha nada quebrado, a Sé estava com o contingente
normal de policiais e mendigos. Foi alarme falso dos black blocks. Mas ainda
sim longe de ter paz.
Não sei quem teve a ideia de colocar essa placa na Paulista,
mas acredito fielmente que se confundiu. A polícia impede que tenha
manifestações ali e afasta para o Centro, longe dos bairros de classe média
alta paulistana, mas elas não morreram e não ficaram menos violentas. É uma
tentativa simples e vã de demonstrar que a “paz voltou a reinar” para essas
bandas.
E para quem ficou na curiosidade do que a peça guardada
pelos policiais tratava: presos políticos da ditadura militar. Faz parte de uma
série de programações do Centro Cultural sobre o tema, cujo prédio tem fotos,
textos e resquícios desses períodos de opressão espalhados por todos os andares
em forma de exposição titulada de “LUTE”.
Irônico, não?
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